segunda-feira, 13 de setembro de 2010

As 200 empresas mais tecnológicas

As 200 empresas mais tecnológicas


 As 200 maiores empresas de tecnologia do Brasil cresceram 10% em 2009 e faturaram, juntas, 149 bilhões de dólares, quase o PIB nominal do Chile.
Não é preciso lembrar ninguém do gosto amargo que marcou o início de 2009. A crise iniciada em 2007 com o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos manteve as empresas na defensiva. Até o Brasil, em situação mais confortável que a maioria dos países, apresentou recuo de 0,2% no PIB no ano passado. Mesmo assim, o setor de tecnologia brasileiro conseguiu ótimos resultados. Foi o que concluiu a 13a edição do INFO200, levantamento realizado pela INFO e pela consultoria Taniguti & Associados que analisa as maiores empresas de tecnologia do país. Juntas, as 200 maiores faturaram 149 bilhões de dólares, um crescimento real de 10% em relação ao ano anterior. “É um resultado muito positivo, considerando a queda do PIB”, diz Edson Taniguti, responsável pelas análises. Ele observa que, por causa da valorização do real em relação ao dólar, se o crescimento for calculado na moeda norte americana, ele vai parecer ainda maior.
Para chegar a bons resultados financeiros num cenário de crise, os executivos entrevistados pela INFO contam que tiveram de fazer bastante ginástica corporativa. Além de cortar custos, precisaram criar novos produtos e serviços, explorar nichos do mercado e, em muitos casos, manter os investimentos apesar da incerteza. “A adição de novos clientes, combinada a um estrito controle de custos, resultou em lucro. Além disso, investimos em tecnologia para melhorar o atendimento”, diz João Cox, presidente da Claro. A operadora ostenta resultados invejáveis no INFO200. Está em quinto lugar no ranking por faturamento, é a segunda empresa com maior lucro líquido, com margem de Ebitda (lucro antes de ser descontados juros, impostos, depreciação e amortização) de 4%. Na vice-liderança do mercado de telefonia móvel, terminou 2009 com 44,4 milhões de clientes, 5,7 milhões a mais que no ano anterior.
Para ganhar novos assinantes, a Claro apostou na flexibilidade de ofertas. “Passamos a permitir a personalização dos planos. O cliente escolhe quantos minutos quer de voz, quantas mensagens SMS deseja enviar e se quer navegar na internet”, diz Cox. Outra novidade foi o uso de uma nova ferramenta no call center, fonte habitual de reclamações dos clientes. O software identifica palavras nas conversas telefônicas e classifica as ligações gravadas. Casos considerados críticos recebem atenção especial. “É uma ouvidoria ativa. Podemos definir, por exemplo, que o sistema alerte quando algum cliente fala um palavrão”, explica.
No terceiro lugar do ranking, a Vivo, líder do mercado de telefonia móvel, fechou 2009 com 54 milhões de assinantes. Numa tentativa de melhorar o atendimento ao cliente, a Vivo contratou 500 vendedores das suas lojas que antes eram terceirizados, diz o diretor de planejamento estratégico Daniel Cardoso. Além disso, investiu 2,5 bilhões de reais em infraestrutura. “É preciso garantir a capacidade da rede e expandi-la para receber novos clientes”, diz Cardoso. Um dos novos produtos da empresa em 2009 foi a internet móvel pré-paga. “É voltada para quem faz uso eventual do serviço e não quer ter o compromisso de um pagamento mensal”, explica.

Telecom domina 
Como acontece em todas as edições do INFO200, o setor de telecomunicações domina o topo do ranking. A Oi, número 1 na lista, teve faturamento de 26,2 bilhões de dólares e crescimento de 71% nas vendas em 2009, mas teve o maior prejuízo do levantamento — 250 milhões de dólares. São números que refletem a aquisição da Brasil Telecom, concluída no início de 2009. “No ano passado, nos concentramos em arrumar a casa. Precisamos reestruturar processos e baixar o custo operacional para justificar a aquisição da empresa”, diz Pedro Ripper, diretor de desenvolvimento tecnológico e estratégico da Oi.
Outra empresa de telecomunicações com números vultosos é a Telefônica, que ficou em segundo lugar no ranking por faturamento, apresentou o maior lucro líquido e a oitava maior margem de lucro operacional (Ebitda em relação às vendas líquidas) do INFO200. Apesar dos resultados positivos, 2009 foi desastroso para a imagem da empresa, por conta das falhas no seu serviço de acesso à internet Speedy. Entre junho a agosto, a companhia chegou a ser proibida, pela Anatel, de comercializar o serviço. Nesses três meses, perdeu 149 000 clientes e teve de desembolsar mais de 100 milhões de reais em melhorias. “Investimos no aumento da capacidade de transmissão dos cabos e na redundância da rede, além de fazer melhorias no atendimento”, afirma Fábio Bruggioni, diretor executivo do segmento residencial da Telefônica.
Ainda campeã em reclamações no Procon-SP, a Telefônica até conseguiu reduzir as queixas. Em abril de 2009 foram registradas 2 800 reclamações, número que caiu para 600 em dezembro. O que contribuiu para a melhora foi a criação, em setembro, da fi gura do auditor, diz Bruggioni. “Ele confere se o cliente entendeu os detalhes sobre o serviço que está contratando. Isso duplica o custo do vendedor, mas melhora a satisfação do consumidor”, diz. Para impulsionara estagnada área de telefonia fixa, a Telefônica focou seus esforços nas classes C e D. Colocou 500 vendedores para bater na porta das casas. Também desenvolveu pacotes mais flexíveis, com melhor controle de gastos. “60% das nossas vendas não são de linhas tradicionais”, diz Bruggioni.

Sabor brasileiro 
O Brasil passou a ser prioridade para muitas empresas globais, observa Carlos Werner, diretor de marketing da Samsung, a maior fabricante de equipamentos eletrônicos no INFO200. “Temos trazido os produtos quase simultaneamente aos países mais avançados”, diz. Em 2009, a Samsung cresceu 33,3% em relação ao ano anterior, impulsionada pelo sucesso das TVs de tela fina e pelos smartphones de custo mais baixo. Ficou em sétimo lugar no INFO200, três posições acima de onde se encontrava na edição anterior. “Nosso pulo do gato foi oferecer celulares com tela sensível ao toque mais baratos para um público que não tinha acesso a esse tipo de aparelho”, diz Werner.
A AOC, 35ª no ranking, não cresceu em 2009, mas teve margem de 15% no Ebitda em relação às vendas e de 100% no resultado em relação ao patrimônio líquido — números que atestam a alta lucratividade da sua operação no Brasil. A estratégia da empresa é prestar atenção às preferências do consumidor brasileiro. “O brasileiro gosta de produtos com visual menos conservador e dá importância ao número de conexões HDMI da TV”, diz Maurizio Laniado, vice-presidente da AOC Brasil.

Cartão dá dinheiro 
Apesar do enorme volume de vendas das gigantes da telecom, as empresas que apresentam as melhores margens de lucro no INFO200 são as que trabalham com meios de pagamento. É um setor com resultados de fazer inveja. A relação entre Ebitda e vendas líquidas da Redecard é de 67,1%. A da Cielo é de 65,7%. “Pela nossa rede passam 7% do PIB brasileiro. Ela está preparada para processar o triplo do volume de transações previsto”, diz Rômulo Dias, presidente da Cielo. Em 17º lugar no INFO200, a companhia apresentou crescimento de vendas de 21,9% em 2009.
Uma das estratégias da empresa foi investir em produtos para segmentos específicos, como o Agro, cartão para compra de insumos agrícolas. A Cielo também trabalhou na divulgação do cartão aos profissionais liberais. “Médicos, feirantes e dentistas, que não têm uma cultura de aceitar cartão, podem oferecer essa opção de pagamento aos clientes”, diz Dias. Na visão do presidente da Cielo, há muito espaço para crescimento do setor. Nos países desenvolvidos, 60% dos pagamentos são feitos por cartão, enquanto no Brasil essa parcela é de 25%. A concorrência vem se acirrando desde que a Redecard e a Cielo perderam a exclusividade na operação com as bandeiras Mastercard e Visa.

Movidas a inovação 
No setor de software, vende mais quem consegue oferecer uma solução que traga resultados concretos para o cliente. A brasileira Elucid, focada em soluções para o setor elétrico, por exemplo, colheu ótimos números. Um dos sistemas criados por ela trouxe redução nos gastos com envio de correspondência para as concessionárias de energia. O software permite que, usando uma impressora portátil, o funcionário responsável pela medição do consumo imprima a fatura na residência do cliente. “Para as empresas usuárias, a TI é commodity. Elas não querem saber onde vou hospedar o software. Querem ver o valor agregado da tecnologia. Temos de entregar a solução completa para eles”, diz Michael Wimert, CEO da Elucid. A empresa vendeu 63,8 milhões de dólares em 2009. Teve crescimento de 18,9% e margem do Ebitda sobre vendas de 35%. Para o acionista, o investimento teve uma valorização de impressionantes 355%.
A Linx, especializada em soluções para o setor varejista, é destaque entre as empresas menores no INFO200, com margem do Ebitda de 31% e crescimento de vendas de 19,8% em 2009. "Os bons resultados são reflexo das sinergias obtidas com a compra da concorrente Quadrant", diz Alberto Menache, presidente do grupo Linx. Além disso, a empresa passou a oferecer serviços de telecomunicações que complementaram seu sistema de automação comercial. “O ano de 2009 foi bom, mas 2010 certamente vai ser melhor”, prevê ele. A julgar pelo desempenho da economia brasileira no primeiro semestre, a previsão tem tudo para se confirmar.

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