terça-feira, 6 de março de 2012

Sem retração, serviços de tecnologia avançam no país e alavancam PIB




Segmento foi o que mais cresceu em 2011, segundo dados do PIB.
Mercado saltou de US$ 59 bi em 2008 para US$ 95 bi em 2011.

Elder Rodrigues, de 18 anos (Foto: Darlan Alvarenga/G1)
O contrato de estágio de Elder Rodrigues, de 18 anos, encerraria em maio, mas ele já foi comunicado que será efetivado já a partir do próximo mês como analista júnior. “Entrei como estagiário há 4 meses e já vou ser efetivado. Não imaginava que tudo iria acontecer tão rápido”, diz o estudante, que está no 2º ano do curso de sistemas de informações e acaba de conquistar o seu primeiro emprego com carteira assinada. “Nem me formei e já tenho emprego. Acho que acertei ao escolher a área de TI [Tecnologia da Informação]”, avalia.



De acordo com os números de crescimento do setor e de déficit de mão de obra especializada na área, Rodrigues acertou em cheio. Dados do IBGE divulgados nesta terça-feira (6) mostram que o segmento de serviços de informação avançou 4,9% em 2011, acima da alta do PIB do país, que ficou em 2,7%, e à frente de atividades de maior destaque nos últimos anos, como construção civil (3,6%), indústria da transformação (0,1%) e comércio (3,4%). Em 2010, o setor tinha avançado 3,8%. Em 2009, quando o PIB nacional teve variação negativa, serviços de informação registraram crescimento superior a 4%.

gráfico arte TI PIB - Vale este (Foto: Editoria de Arte/G1)Os serviços de informação englobam as atividades de telecomunicações, internet, serviços audiovisuais, edição e tecnologia da informação, que responde pela maioria das empresas do setor e por cerca de 50% da mão de obra empregada.
Os serviços relacionados à tecnologia de informação vêm ganhando uma participação cada vez maior na economia do país e as perspectivas para quem investe em uma carreira na área seguem promissoras. Atualmente, são cerca de 1,2 milhão de trabalhadores na área, cujo salário médio é de R$ 2.950, e o déficit de profissionais no mercado é estimado em 115 mil pessoas.

Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o mercado de TI cresceu 61% nos últimos 3 anos. Em 2011, o setor movimentou US$ 96 bilhões, uma alta de 13% em relação ao ano anterior, representando 4,4% do Produto Interno Bruto (PIB). Considerando também o mercado de telecomunicações, o total em 2011 chegou a US$ 190 bilhões, ou o equivalente a 8% do PIB.
O avanço do mercado de TI reflete a procura por ganhos de eficiência e busca por estruturas administrativas mais enxutas mediante terceirização de serviços e incorporação de soluções de tecnologia por praticamente todos os setores da economia, seja agropecuária, indústria ou comércio. Para 2012, o setor projeta crescimento de 12% a 13%.

“Um dos diferenciais do setor é que não há retração. A curva de TI é ligeiramente independente do crescimento econômico do país”, diz Antonio Gil, presidente da Brasscom. Ele destaca que os serviços de tecnologia são demandados tanto em projetos de expansão dos investimentos e inovação como de redução de custos e ganhos de escala.

“Nos últimos anos, tivemos a ascensão de mais de 40 milhões de pessoas para a classe C, um universo de consumidores emergentes que, além de eletrodomésticos, querem saúde, educação, bancarização e segurança, e não há como aumentar a oferta desses serviços sem fazer uso de TI”, acrescenta Gil.

TI pode ter 6,5% do PIB em 2022
O volume de US$ 96 bilhões faz do Brasil o sexto maior mercado de TI do mundo, segundo a Brasscom. A entidade prevê que, em 10 anos, o mercado brasileiro chegará a R$ 220 bilhões, o que pode corresponder a 6,5% do PIB.

“Podemos ser o quarto ou quinto maior mercado. O setor de TI brasileiro é um dos mais sofisticados do mundo. Somos bons no que fazemos. Nosso sistema bancário é um dos mais avançados do mundo e temos uma série de áreas que ainda não são atendidas efetivamente, como saúde, educação e segurança”, afirma Gil.
Dados do IBGE mostram que, entre 2003 e 2009, o número de empresas de serviços de informação saltou de 55 mil para 70 mil. Segundo a Confederação Nacional de Serviços (CNS), o setor responde por apenas 7,7% do total das empresas de serviços privados especializados. Por outro lado, o segmento responde pela maior fatia de faturamento líquido (28,8%), com uma receita média por empresa cerca de quatro vezes maior do que o nível de faturamento das outras empresas de serviços.

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), só o mercado de desenvolvimento, produção e distribuição de software e de prestação de serviços é explorado atualmente por cerca de 9 mil companhias, sendo 85% delas micro ou pequenas empresas.
O custo de investimento para a abertura de uma empresa do gênero é relativamente baixo, basicamente pessoal e treinamento, o que estimula o empreendedorismo.

"O aumento da renda das famílias tem feito crescer a demanda por serviços voltados para o mercado interno. O setor é o maior empregador do país e o que mais cresce. Para 2012, estamos prevendo uma alta em torno de 5%", diz Luigi Nesse, presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), destacando que todas as atividades relacionadas a serviços (incluindo o comércio) respondem atualmente por 67% do PIB e tendem a representar mais de 70% do PIB em um prazo de até 5 anos.
"Na área de tecnologia, a grande vantagem é que diariamente surge uma nova oportunidade para empreender, seja na criação de um portal, um software, um sistema de informação, um aplicativo. E, na maioria dos casos, para começar basta uma ideia e conseguir juntar uma meia dúzia de profissionais”, acrescenta Nesse.
Déficit de mão de obra e pouca exportação
Com uso de mão de obra intensiva, a área de TI tem sido uma grande geradora de empregos, e o grande desafio do setor tem sido justamente suprir toda a demanda por profissionais qualificados. O gasto com mão de obra representa cerca de 70% dos custos das empresas de TI. "O país precisa incorporar cerca de 750 mil novos profissionais até 2020 para alcançar a meta de responder por 6,5% do PIB", diz o presidente da Brasscom. Entre os entraves para suprir as demandas do setor, ele cita o baixo percentual de egressos de nível superior na área de ciências exatas (cerca de 11%), a alta evasão escolar nos cursos de TI, a falta de base matemática no ensino fundamental e o baixo índice de profissionais com domínio de um segundo idioma.
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Tais deficiências fazem o setor de TI brasileiro ainda ser extremamente dependente do mercado interno. As exportações somaram US$ 2,65 bilhões em 2011, segundo a Brasscom, o que representa uma fatia de menos de 3% do mercado. O mercado externo indiano, por exemplo, conhecido por atender localmente empresas de outros pontos do globo em seus call centers, é da ordem de US$ 70 bilhões.

O presidente da Abes, Gerson Schmitt, destaca que, dentro do mercado brasileiro de software, 79% dos programas ainda são desenvolvido no exterior. Para equilibrar essa balança, ele defende não só uma política de desoneração como também de fomento à proteção da propriedade intelectual.
"Hoje vendemos apenas serviços e não soluções replicáveis. Se seguirmos esse modelo, que é o indiano, seremos apenas colônia tecnológica, de venda de mão de obra a preço de commodity", diz. Ele alerta ainda para a forte tendência de internacionalização e concentração do setor. "São poucas as empresas de grande porte brasileiras e as que existem estão sendo assediadas", diz.
Empresa 100% brasileira está em 28 países
Marco Stefanini (Foto: Darlan Alvarenga/G1)

Empresa criada por Marco Stefanini fatuou R$ 1,2 bi
em 2011(Foto: Darlan Alvarenga/G1)
Embora o mercado seja dominado por multinacionais, algumas empresas brasileiras também têm se destacado na área, conseguindo inclusive competir internacionalmente. “Hoje, 40% da nossa receita já vem do exterior. Somos a maior empresa latino-americana de serviços em TI e estamos entre as cinco maiores do mercado nacional”, diz Marco Stefanini, presidente e dono da Stefanini, empresa 100% brasileira, presente em 28 países com 14 mil funcionários.

Após uma série de aquisições no exterior, a companhia foi apontada em 2011 como segunda empresa nacional mais internacionalizada, ficando atrás apenas da JBS-Friboi, segundo ranking da Fundação Dom Cabral.

Formado em geologia, Stefanini entrou na área por acaso, em 1984, e construiu a partir do zero uma empresa que em 2011 anunciou um crescimento de 21%, com faturamento de R$ 1,2 bilhão, volume quatro vezes maior do que o registrado em 2006 (R$ 285 milhões). Para 2012, o grupo prevê crescimento de 35% e a contratação de pelo menos 2,5 mil funcionários, a maioria em território brasileiro.

“Vou ser sincero, não apostei. Era o que tinha na época, mas não vou falar que não gostei", diz o empresário.
Para driblar a falta de mão de obra, a Stefanini tem investido em recrutamento e aberto escritórios em cidades fora dos principais polos econômicos, onde a oferta de vagas na área é menor. Mesmo assim, a empresa passou a adotar a estratégia de abrir escritórios no exterior, para se manter competitiva no mercado internacional, ainda mais diante da valorização do real. Atualmente, as exportações responde apenas por cerca de 5% do faturamento da empresa.
"É comum uma concorrência onde uma empresa avalia vários países da América Latina e opta por serviços do México ou da Argentina, e não do Brasil”, diz Stefanini.
Entre os mais de 500 clientes da Stefanini no mundo estão gigantes como Petrobras, Telefónica, Bradesco, Ford, Dell, Motorola, Johnson & Johnson, Pão de Açúcar, Fnac e Compra Fácil. Mas quais são as soluções e serviços oferecidos pelas empresas de TI?
“A gente desenvolve aplicações que as empresas usam como base no seu business, seja na área de back office (programas de gestão interna), logística, e-commerce, internet móvel, certificação de compras, desenvolvimento de um portal ou gerenciamento de infraestrutura e suporte", explica Stefanini.
Recém ingresso na empresa e no mercado de TI, o estagiário Rodrigues atua no suporte da rede de uma companhia aérea. “Trabalho com login de usuário, arrumo ponto de rede, tiro dúvida de funcionários, tenho de resolver um pouco de tudo, só não crio ainda aplicativos. Mas espaço para crescer é o que não falta", acredita.

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